Exposição de Artes Visuais pinturas e esculturas no Sesc

O Serviço Social do Comercio – Sesc no Acre, apresenta no período de 28 de fevereiro a 18 de março a exposição de Artes Visuais Raimundo Marques Vieira: pinturas e esculturas. A vernissage ocorre no dia 28 de fevereiro às 19 horas, na Galeria de Arte do Sesc Centro.

A Obra

Raimundo Marques Vieira nasceu em 1932 no Estado do Ceará, é o filho primogênito de Damião e Maria Marques, que chegaram ao Acre ainda no primeiro ciclo da borracha na década de 1930.

Não pode frequentar uma escola formal, desde criança trabalhando no corte e defumação de seringa. Após o falecimento de seu pai e sua mãe, Raimundo, seus seis irmãos e um primo foram acolhidos pelo agricultor Irineu Serra, fundador do Santo Daime, onde viveram por alguns anos, até acompanharem sua irmã mais velha, que após o casamento assumiu os irmãos, que logo seguiram independentes.

A mãe, Maria Marques Vieira foi uma importante seguidora de Mestre Irineu e sua obra musical espiritual (hinário) “O mensageiro” é cantada e traduzida em todos os continentes através da expansão da Ayahuasca.

Desenhava desde menino, até com os dedos dos pés no barro e na areia, enquanto colhia o látex, observando os animais na floresta ao seu redor. Sonhava em trabalhar construindo aviões, já na idade madura, em ter um espaço e condições de ensinar artes visuais para crianças, numa construção de arquitetura tradicional de paxiúba, mulateiro e palha em sua residência, com o objetivo de compartilhar seus conhecimentos, abrigar sua produção e oferecer atividades para a comunidade.

Produzia suas tintas com extratos naturais e restos de outras tintas, fabricava seus pinceis com capim. Utilizava como suporte restos descartados de PVC, aglomerados de papelão e madeira.

Em sua geração não existiam brinquedos de plástico e havia uma forte tradição em esculpir na madeira do algodoeiro, abundante, macia, leve, clara e de rápido crescimento. Todas as crianças aprendiam com suas famílias a esculpir peões, figuras humanas articuladas, carros, animais e utensílios.

Com a mesma técnica produziu suas esculturas com diversos temas, agregando outros materiais recicláveis como restos de embalagens plásticas. O desenho e a pintura eram habilidades menos comuns.

Deixou um traço livre de esquemas acadêmicos, formado diretamente pela observação e memória, exemplo que marca a necessária importância da cultura e vivências para o desenvolvimento de um povo. Não conheceu seus temas através de imagens, e sim pelos encontros reais dentro da floresta, um olhar desenvolvido de uma forma cada vez mais rara.

Seu Raimundo resistiu produzindo e morando na zona rural do Município do Bujari, que abriga a Floresta Estadual do Antimari e sua população tradicionalmente seringueira.

Já em idade avançada, foi tema de pesquisa para um trabalho de graduação do artista Mardilson Torres, e em 2014, as equipes dos cursos de artes visuais e audiovisual da Usina de Arte produziram um documentário de 12 minutos.

Faleceu em 2015, e logo em seguida sua esposa também, deixando a maior parte de sua obra perdida pela intempérie, pelos cupins e invasões em sua residência.

Sua sobrinha, Edna Marques salvou parte do acervo, que em seguida começou a ser restaurado e exposto pelo artista visual Alexandre Anselmo, através de 19 exposições nos anos de 2017 a 2019, pelo Projeto Gameleira Cultural em escolas públicas de Rio Branco.

A Exposição

Uma das exposições, que aconteceu na Cidade do Povo, recebeu a visita de um membro do Instituto Nova Era – INE, de São Paulo que desenvolve projetos em agrofloresta, sustentabilidade e cultura. O instituto passou a apoiar a organização da sociedade civil Baquemirim, que atua com projetos socioculturais desde 2008, com salvaguarda dos mestres tradicionais do Estado do Acre, educação patrimonial e um selo fonográfico.

Foi elaborado um projeto de salvaguarda para o restauro, abrigo e divulgação do acervo de Raimundo Marques. Antes da devolução para a família, será realizada sua primeira exposição individual.